quinta-feira, 14 de março de 2013

E agora, João?


Não me venhas andar, nas esquinas de bar
Não me sejas assim, o inconveniente porém
É recair sobre o bem os desvios do teu mal

Me forças a agir, deste jeito não podes ficar
Meu querido João, como pude deixar?
Seria horrível pensar, neste fim bestial
Que escolhas me deixa afinal, se não lhe amaldiçoar?

E nada tema João, basta curar-te
E as portas do lar estarão abertas à ti
Por hora há lodo e rua a te esperar, mas entenda João,
A mim me dói mais que a qualquer outro
O desgosto de tua perdição

João acorda:

Oh, não! Não... Não há mais como fugir
Se há neste chão um declamar tão vil,
Se há por detrás destas paredes murmúrios de desaprovação
Se julgam haver infâmia em meu leito,
Julgo não encontrar aqui meu lugar

[Entra no saguão]Ouçam-me agora, minha escolha é muito clara
Não me venham com honras, tratados, migalhas
Há aqui dois espécimes do que achas mais repugnante
E não nos olhe com esta face de horror,
Afinal trata-se apenas de amor

João se cala; a voz retorna:

Como ousas João, em pleno louvor
Frente a imagem do criador, o desafiar?
Promíscuo! Abjeto! Flagelo destes tempos atroz!
Não te passas que causa apenas vergonha a nós?

Como ousas João, retribuir tanto amor
Tanto ouro por tamanho horror? Custa-me acreditar...
Nego-lhe tudo: o prato, o manto, o copo, o ar.
Já me basta fitar a desfaçatez ardente de teu olhar!

Apresse-se pois, não mais nos fará mal,
Retirá-lo-ei de todas as memórias
Matá-lo-ei no jornal local
Que reste apenas a desonra
Que calado fique até seu final.

Silêncio....
Silêncio.
Silêncio!?

Acorda o parceiro de João:

E agora, João?
Só há a rua a trilhar
Como ainda pode esperar
Um novo Sol nascer?

Repito João,
Não irei te deixar
Aprendi a viver neste chão
De descaminhos iremos nos guiar
Em vão...

Ah, meu João
Ande, dá-me tua mão
É preciso dançar o cordel
Essa vida regrada a bordel
É o que nos restará

Ah, João!
Soubessem o quanto há ironia em tudo
Soubessem o pouco que lhes falta muito
Que temos, senão Amor?
Que vos falta, senão Amor?