segunda-feira, 8 de abril de 2013

A carne

A superfície é plena
Dela, se olha as estrelas
E do mar, se esculpem as maneiras
Que permeiam a tua cama

Da carne, tudo se enleva
Enxerga os olhos
Na vitrine eterna
E seduz o peito
No caminhar errante

Da lua, tudo é distante
A sup­­erfície é distante
No entanto, dana a brilhar:
Cintila a luz
Que da alma impele o olhar
Derrama o pó
Que encobre a dor
Desfaz o ser
Que arde em estar

Pro tempo, a carne se nega
Reduz a vida
À lembrança terrena
Em tempo, a carne revela
Chama vil que a renega
Impõe ao peito
A realidade erma
Consome a cor
Da superfície plena

Do tempo, pouco se espera
A superfície, a lua, o mar,
Desdobramentos ébrios
De uma carne a pensar:
Tampouco se sabe
E de tudo se tenta
À luz de um derradeiro olhar:
Pro tempo, a carne se nega
Da carne, tudo se enleva.