domingo, 29 de julho de 2012

O último soldado

Sois vossos passos que caminham cansados
Sois vossas trevas, vosso cálice inacabado
Pois mortos, não teremos volta,
Pois vivos, não teremos fim.

Sois vossa escória e vossa inconsequência
Vossa criação, estúpida e ordinária
antes convertidos em novos soldados
em nome da pátria grande que nos matava

Soldados tristes, mudos, 
deslocados no tempo imóvel 
da execução sumária do ser
mas, em tempo, estes pereceram

Surgiu outro, o último soldado 
Lento e generoso, chegou e se instalou
Nos lares das famílias, surdas e simplórias
Negou sua pátria, seu chão, seus criadores

Revelou-se ingrato, sujo e perseguido
Mas ganhou abrigo, novos braços e ouvidos
que seguiram sua sina, sua última rima
para viverem juntos, neste sonho proibido  

O soldado da alegria, da guerra dos cientes
Das promessas belas e das fábulas eternas
Caminha em seu verso único, simples e amável
Preparando-se para a última dor inevitável

A dor de vossos soldados, criações obedientes
que embateriam seus irmãos, imemoráveis dissidentes
Meliantes profanos da desordem delinquente
não merecedores do perdão, das pátrias includentes

Vosso ódio, porém, nada pôde fazer
vossa vontade não pudera ser correspondida
o último soldado estava a festejar e cantar  
em cada rua da cidade vociferando seu fim iminente 

Não houve embate, tampouco sangue
venceram todos, perderam poucos
vosso privilégio restituiu nossa igualdade
e nossos soldados, foram os últimos soldados.